segunda-feira, 1 de junho de 2009

Mudança de Sexo : O que fazer?


Jazz, de 6 anos, é aparentemente uma estudante norte-americana comum. Usa vestidos, tem cabelos compridos que enfeita com tiaras coloridas, e um quarto rosa e lilás onde brinca de casinha com as amigas. Chega a ser difícil imaginar que Jazz, na verdade, nasceu menino. Quando tinha pouco mais de 1 ano e começava a dizer as primeiras palavras, a criança deixou claro que se sentia como uma menina. Abria os macacões para parecer um vestido e, quando os pais o elogiavam dizendo "bom menino", os corrigia dizendo "boa menina". Os pais de Jazz acreditaram que aquilo iria passar. Mas não passou. A criança continuava insistindo nas coisas de meninas e dizia que o pênis era um engano. Um dia, surpreendeu a mãe com a seguinte frase: "Quando a fada boa vier, será que ela pode mudar minha genitália?"

Casos como o de Jazz, que sofre de um distúrbio conhecido como transtorno de identidade de gênero, começam a gerar sérias discussões na Europa e nos Estados Unidos. Não existe uma teoria definitiva sobre o assunto. Na prática, é como se a criança tivesse nascido no corpo errado. Alguns especialistas defendem que até a oitava semana de gestação, os cérebros de todos os fetos são iguais: femininos. Depois desse período, a testosterona (hormônio masculino) surge no organismo dos bebês que serão meninos e começa a atuar na formação do feto. Uma possível falha hormonal nesse processo pode imprimir o gênero errado no cérebro de algumas crianças. O hormônio atinge o corpo, que desenvolve órgãos sexuais masculinos e outras características, mas não chega ao cérebro, o que faz com que a criança, ao nascer, pense e se sinta como menina. Ou, então, o hormônio chega ao cérebro, mas não ao corpo.

Seja qual for a explicação exata, psicólogos, médicos e educadores não sabem exatamente o que fazer em casos de crianças, que como Jazz, são chamadas de transgêneres. Há quem defenda que detectar o problema na infância pode evitar traumas às crianças e aos pais. "Na verdade, essas crianças são transsexuais. Eles sentem que nasceram no corpo errado e percebem isso desde crianças, por isso querem mudar o corpo. Mas não significa que elas tenham atração por pessoas do mesmo gênero", diz Antônio Carlos Egypto, psicólogo e sociólogo, membro fundador do Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual (GTPOS).

E o transtorno não se manifesta apenas em meninos. Em 2004, Rebecca, então com 14 anos, escreveu uma carta para os pais, dizendo que deviam chamá-la de Jeremy. Ela pedia que eles aceitassem o que ele realmente era. Cortou os cabelos, comprou roupas masculinas e começou a usar faixas debaixo da roupa para disfarçar os seios. Foi bem aceito na escola, mas logo começou a menstruar e quis tomar hormônios para bloquear a chegada da puberdade. Com medo de perder o filho, que estava deprimido, os pais deixaram que Jeremy tomasse os hormônios aos 16 anos. Agora, o jovem faz a barba, a voz engrossou e o corpo se tornou mais másculo. Especialistas se dividem quanto à idade para começar a tomar hormônios bloqueadores. A maioria dos médicos, no entanto, concorda que quanto antes, melhor. Por outro lado, a terapia hormonal também traz riscos à saúde, pois aumenta as chances de câncer de mama e de esterilidade. Na casa da família Grant, os pais estavam satisfeitos com o casal de gêmeos, Ally e Richard, que nasceram há 11 anos. Aos 2 anos, porém, Richard começou a dar sinais de que queria ser como a irmã, uma menina. Os pais tentavam estimular o menino a fazer atividades de menino. Até que, um dia, eles surpreenderam Richard tentando abrir um cortador de unhas para cortar o próprio pênis.

E o preconceito que crianças transgêneres sofrem pode passar de xingamentos e chegar ao extremo. Gwen Amber Araujo, uma transgênere norte-americana de 17 anos, foi cruelmente assassinada em uma festa, em 2003, após colegas de faculdade descobrirem que era biologicamente homem. Hoje, a mãe dela, Silvia Guerrero, dá palestras sobre o assunto tentando informar a população "até que as pessoas parem de morrer pelo que são". Os assassinos foram presos. Mas Silvia diz que sente falta de abraçar a filha. "Eles mataram meu bebê, que eu gerei no meu ventre, e não um adolescente aberração-transsexual".

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